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segunda-feira, junho 23, 2014

Record paga R$ 10 mil por entrevista e usa Russo para atacar a Globo

Geraldo Luis paga o cachê de Russo: um cheque de R$ 10 mil pela entrevista contra a Globo

Por DANIEL CASTRO, em 23/06/2014 · Atualizado às 06h52

Há três meses no ar, o Domingo Show é um pograma que faz do sensacionalismo e da exploração do drama alheio a sua matéria prima. Todos os domingos, o apresentador Geraldo Luis repete a fórmula. Durante mais de uma hora, enrola o público em torno de uma história de apelo popular, quase sempre envolvendo alguma pessoa outrora muito conhecida e hoje um tanto esquecida.

No último domingo (22), a atração da Record fez miséria da desgraça de Antônio Pedro de Souza e Silva, o Russo. Durante 46 anos, Russo foi operador de áudio e assistente de palco da Globo. É é da era de Chacrinha, encerrada no final dos anos 1980. No programa, fazia o papel que o anão Marquinhos faz no show de Geraldo Luis, o de palhaço sem maquiagem e aberração.

Aos 83 anos, Russo se aposentou há mais de 20, mas mesmo assim continuou trabalhando na Globo. Passou pelo Domingão do Faustão, Xuxa e Caldeirão do Huck. Em março deste ano, depois de sofrer um infarto no trabalho, a Globo o obrigou a ficar em casa e bloqueou seu crachá, o impedindo de entrar no Projac, a central de estúdios da Globo.

Segundo a companheira de Russo, Adriana Melo, a Globo se comprometeu a pagar o plano de saúde e uma "renda" por mais cinco anos. De acordo com o próprio Russo, ele ganha apenas "mil e poucos" reais de aposentadoria (na entrevista, ele não confirmou a "renda" da Globo). Mais do que a dificuldade financeira, o que magoa Russo é a impossibilidade de trabalhar, o descarte depois de tanto tempo de servidão. "Fui mandado embora da Globo sem mãe e sem mãe. Foi uma covardia o que fizeram comigo", disse para a Record.

Em computação gráfica, Record quebra o crachá de Russo, passando a imagem de que a Globo o dispensou

O drama de Russo, inegavelmente, é notícia. Mas na boca da Record soa a oportunismo. A emissora usou a dor de Russo para atacar a Globo, sua principal concorrente. Numa imagem simbólica, o crachá de Russo na Globo foi quebrado ao meio pelos computadores da Record. Geraldo Luis chegou a dizer que o assistente de palco é "uma lenda viva da TV brasileira", e que "alguém que fica 50 anos numa empresa é mais do que funcionário", é "patrimônio". 

A mensagem que a Record quis passar foi a de que a Globo descarta seus "talentos" sem a menor cerimônia quando eles ficam velhos e não servem mais. Nas entrelinhas, disse que a Globo é cruel, desumana. Não é bem assim. Primeiro, o capitalismo é assim, as pessoas envelhecem e são obrigadas a se aposentar, dar lugar aos mais jovens. Segundo, a Globo, diferentemente da Record, tem uma política de recursos humanos das mais invejáveis entre todas as empresas do país.

Não é a primeira vez que o programa da Record, que é produzido pelo departamento de jornalismo, explora a desgraça alheia e alfineta a concorrência ao mesmo tempo. Começou com Rodolfo, da dupla com ET, que processa o SBT, e prosseguiu com Zina (Rede TV!) e familiares de Mussum (Globo). Carreiras acabam, mas no Domingo Show isso só acontece na concorrência.

No caso de Russo, chamou a atenção a forma como a Record escancarou que comprou a entrevista. No final, Geraldo Luis, que trabalha cercado por anão, um galo, uma "candinha" e até um sujeito fantasiado de morte, se desculpou com Russo. O assistente de palco, que esperava uma nova oportunidade de trabalho, vai continuar sonhando com a casa própria: "É que eu não tenho a caneta, mas se tivesse eu contratava o Russo". E entregou um cheque de R$ 10 mil para ajudá-lo.

A entrevista foi paga no palco, sem cerimônias. A Record, sim, usou e abusou de Russo. Ele só servia para atacar a Globo.

Fonte: Notícia da TV

quinta-feira, junho 19, 2014

Por que o Fuleco anda sumido dos estádios? A Fifa tem os seus motivos

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Rodrigo Bertolotto
Do UOL, em Fortaleza

SacizentoQuando Jérôme Valcke anunciou, em 2012, o tatu-bola como mascote da Copa, exaltou que o bicho, mais que um símbolo, representava o legado de "proteger a natureza". Um ano e meio depois, a Fifa não destinou um centavo para preservá-lo. Coincidência ou não, o Fuleco anda sumido nos estádios da Copa e não apareceu nem mesmo na cerimônia de abertura do Mundial.

O líder da Associação Caatinga, organização não governamental que propôs o tatu-bola como mascote da Copa, diz que a Fifa tentou um acordo de última hora com grupos que defendem a preservação do animal, mas o valor oferecido era "uma proposta indecorosa", segundo Rodrigo Castro. A bilionária entidade máxima do futebol, que teve um lucro de US$ 2,4 bilhões nos quatro anos de preparação da Copa 2014, encerrou as negociações depois que a ONG não aceitou os US$ 300 mil que ofereceu. E que seriam distribuídos em 10 anos.

A felicidade da escolha em setembro de 2012 se transformou em tristeza com as negativas da Fifa em ajudar o animal da caatinga, que é  ameaçado de extinção. Com a presença de toda alta hierarquia da Fifa no Brasil nos últimos dias, inclusive Federico Addiechi, o chefe de responsabilidade social da entidade, veio uma proposta oficial após 16 meses de negociações.

"Eles ofereceram um trocado, um dinheiro que sobrou do programa de neutralização de emissão de carbono deles. Fizemos uma contraproposta e esperamos uma resposta até o apito final da Copa", afirma Castro.image

Segundo a Fifa, o valor oferecido foi de US$ 300 mil. Já a Associação Caatinga disse ter recebido uma proposta de R$ 300 mil. De qualquer forma, essas quantias seriam menores do que a colaboração de outros patrocinadores da ONG. O valor não teria impacto no programa de proteção do tatu bola. 

Hoje em dia, por exemplo, não se sabe a população total desse tatu e a distribuição dela, e faltam muitos dados sobre seus hábitos. Até sua criação e reprodução em cativeiro são um desafio, afinal, nenhum exemplar da caatinga foi parar em um zoológico – só o mataco, o tatu-bola do cerrado, é visto em alguns zoos pelo mundo. Muita pesquisa e muito dinheiro são necessários para isso.

Na apresentação do Fuleco ao mundo há dois anos, Valcke disse que o tatu-bola era "perfeito" como mascote. "Um dos objetivos principais é usar a Copa como plataforma para comunicar a importância do meio ambiente e da ecologia", disse à época o secretário-geral da Fifa. "Todos esperavam por uma arara. Mas o tatu-bola significa mais. Não é somente o símbolo de uma competição. Representa o legado, que é proteger a natureza." A escolha do nome, uma mistura de "futebol" com "ecologia", seria outra sinalização vinda de Zurique, sede do futebol mundial.

Porém, esse tal legado ecológico se soma a todas as outras frustrações do Mundial, desde a função de vários estádios até as obras de mobilidade urbana que ficaram no papel. Na imprensa internacional, principalmente a europeia e a brasileira, a promessa ambiental da Fifa repercutiu mal.

Nas redes sociais foram promovidos fóruns, campanhas e abaixo-assinados para que a organização da competição se comprometa com a salvação do mascote ameaçado de extinção do animal cujo habitat exclusivo é a caatinga nordestina, que hoje só tem protegido 1% de sua extensão original com reservas – o governo pernambucano prometeu criar um "Parque Estadual do Tatu-Bola" na região de Petrolina.

Por seu lado, a Fifa parece que  preferiu esconder o Fuleco durante a Copa do Mundo, e a maior prova disso foi a ausência dele na cerimônia de abertura da competição. Bonecos do mascote estão em estandes de patrocinadores do evento, como Visa e Coca-Cola, mas desapareceram das áreas capitaneadas por Joseph Blatter. "Nós estamos satisfeitos de fazer o mascote ser amado tanto no Brasil como no mundo todo", disse Valcke em 2012. Mas a história não foi bem assim. A escolha do nome já gerou polêmica, pela sonoridade do nome, que gera facilmente trocadilhos e piadas.

A Fifa nega, no entanto, que esteja escondendo o mascote da Copa. A entidade afirma que ele tem sido exibido, sim, em todos os estádios, inclusive durante a abertura da Copa no Itaquerão e nas Fan Fest que estão sendo realizadas em todas as cidades sedes. A Fifa diz ainda que não houve nenhuma modificação nos critérios para exibição do Fuleco.

Durante a Copa das Confederações, em 2013, o mascote ganhou grande visibilidade, mas bonecos infláveis dele em Porto Alegre e em Brasília foram atacados e murchados em meio aos protestos contra os custos do Mundial de futebol. Para completar o esvaziamento de sentido dele, traficantes do Rio fizeram embalagens de maconha e cocaína. Surgiu o apelido "Fumeco" e sua "fuleconha".

"Daqui a 40 anos, as pessoas vão lembrar dos jogos e do campeão da Copa, talvez até lembrem do mascote Fuleco. Mas nessa época o tatu-bola pode estar extinto, e as pessoas nem lembrarem dele", sentencia Castro, que ainda tem esperança que até o fim da Copa a Fifa vai apresentar uma proposta melhor para as entidades ambientais.