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domingo, junho 30, 2013

Empresas de ônibus em São Paulo registram lucro acima da média

O lucro líquido das empresas de ônibus de São Paulo é um terço superior à média nacional, segundo planilhas da SPTrans. Os valores foram comparados com dados da NTU (Associação Nacional de Transporte Urbano), que reúne 538 companhias do país.

Lucro líquido é o recurso que o empresário ganha após pagar os investimentos, a operação e os impostos.

Planilha de custo de tarifa é uma caixa preta, diz especialista
Haddad culpa dívida por retorno alto das empresas de ônibus

Empresas de ônibus terão um lucro líquido de 6,8% sobre os R$ 6 bilhões que devem receber este ano da prefeitura como remuneração, segundo a SPTrans. O lucro equivale a R$ 406,8 milhões.

No restante do país, o lucro líquido das empresas é de 4,5%, segundo o presidente da associação das empresas, Otávio Cunha. Se esse índice fosse aplicado a São Paulo, o lucro líquido das empresas cairia para R$ 270 milhões.

A taxa de lucro de 6,8% é considerada alta por economistas e empresários ouvidos pela Folha, porque no setor de transporte urbano as margens de lucro variam de 4% a 5% no país.

Não é só o lucro em São Paulo que está alto, segundo especialistas. A taxa de retorno, de 14%, também está acima da média nacional para ônibus e é quase o dobro do índice que o governo federal pagará para estradas (7,2%).

Taxa interna de retorno é um prêmio que o governo paga a empresários para que eles toquem negócios que são, na maioria, monopólios naturais, como água e luz.

Esse prêmio tem de ser acima do que os bancos pagam para os investimentos; se não for, eles vão preferir manter o dinheiro no banco.

Num exemplo hipotético, o empresário que investir R$ 1 em ônibus teria um retorno de R$ 0,14; ao aplicar em estradas, ficaria com R$ 0,07.

O economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, considera "muito elevados" tanto o lucro quanto o retorno de 14%. "Como os juros caíram nos últimos anos, as taxas de retorno estão abaixo de 10%", diz.

Foi o que aconteceu com o sistema Anchieta-Imigrantes. A concessão de estrada em 1998 previa uma taxa de retorno de 18%; no começo deste ano, caiu para 9,2%.

Isso ocorreu no contrato de ônibus, mas em nível menor. Quando o contrato foi assinado em 2003, na gestão de Marta Suplicy, a taxa de retorno era de 18% e a taxa básica de juros estava em 14% ao ano. Atualmente, a taxa de retorno é 13% e a Selic, 7,5%.

O prefeito Fernando Haddad diz que a cidade paga uma taxa de retorno alta por oferecer mais riscos com a sua dívida de R$ 53 bilhões.

Folha de São Paulo

Planalto vê 'pior cenário'; cresce pressão por reforma

O resultado da pesquisa Datafolha, indicando queda de 27 pontos na popularidade da presidente Dilma Rousseff, foi acima do pior cenário esperado pelo Palácio do Planalto, que previa um recuo máximo de 20 pontos.

Esta é a avaliação reservada de assessores presidenciais. Para eles, a forte queda aumenta a pressão por uma reforma ministerial.

Segundo a Folha apurou, apesar das resistências da presidente, a maior pressão é por uma mudança na área econômica. O ministro Guido Mantega (Fazenda) tem sido alvo de críticas do mercado e dentro do próprio governo.

Em público, o Palácio do Planalto acionou ministros para relativizar a queda, atribuindo o recuo a algo "natural" e que atinge a "todos" os governantes devido às manifestações no país.

"Em momentos como este, de manifestações e protestos, é natural que os governantes tenham queda de aprovação. Isso deve ter acontecido com todos os outros governantes, principalmente chefes de Executivo", afirmou a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

"A presidente, por ser uma pessoa que se expõe muito e tem muita visibilidade, acaba respondendo por problemas que muitas vezes não são de sua responsabilidade. Avaliamos que isso é reflexo da conjuntura", disse.

José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou que "todos os governantes serão atingidos". Segundo ele, a presidente pode ser mais afetada por ser "autoridade máxima do país e porque tinha um altíssimo grau de aprovação".

Gleisi Hoffmann afirmou também que o "mais importante são as respostas que a presidente está dando a esse momento, como a proposta do plebiscito sobre reforma política, que foi bem recebida pela população".

Ontem, a presidente passou o dia no Palácio da Alvorada em reuniões.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que Dilma tem índices superiores aos piores momentos registrados nos governos Lula e FHC. "A economia vai melhorar no segundo semestre e isso vai ensejar uma recuperação."

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a queda não pode ser ignorada. Ele acredita que o momento é de "questionamento generalizado".

"A presidente relatou na quinta-feira que todos estão satisfeitos da porta para dentro de casa; mas, da porta para fora, a situação piorou."

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), diz que "se há a percepção de que a economia piorou, então é, sim, um foco de insatisfação com o governo federal".

Desafeto de Dilma, Cunha evita falar em reflexos eleitorais. "É prematuro falar em 2014. Estamos saindo vivos de uma batida de trânsito. Resta saber se conseguiremos sair vivos do hospital." (VALDO CRUZ, MÁRCIO FALCÃO E TAI NALON)

Folha de São Paulo

Protestos afetam diretamente a corrida presidencial para 2014, Dilma tem caindo nas pesquisas

Depois de três semanas de manifestações de rua em todo o país, a presidente Dilma Rousseff é a pré-candidata que mais perdeu apoio na corrida pelo Planalto.

Sua taxa de intenção de votos cai até 21 pontos percentuais. Embora ainda lidere a disputa de 2014, a queda indica que hoje ela teria de enfrentar um segundo turno.

Para piorar a situação da presidente, seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, se mostrou bem mais resiliente à insatisfação geral dos eleitores com os políticos.

Além de ter perdido só dez pontos percentuais, o petista ainda ganharia no primeiro turno a eleição hoje em um dos cenários apresentados.

Há um crescente movimento dentro do PT que pede a volta de Lula em 2014.

O Datafolha foi à ruas na quinta e na sexta-feira. Entrevistou 4.717 pessoas em 196 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O cenário hoje mais provável para a sucessão inclui Dilma, Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Nessa simulação, a petista tinha 51% das intenções de voto nos dias 6 e 7 deste mês. Agora, desceu para 30%. Esse é o mesmo percentual da aprovação de seu governo, apurada no mesmo levantamento e divulgada ontem pela Folha.

Nesse mesmo cenário, Marina Silva subiu de 16% para 23%. Aécio Neves foi de 14% para 17%. Campos oscilou de 6% para 7%.

Os três adversários juntos pularam de 36% para 47%. Nessa hipótese, seria realizado um segundo turno entre a petista e Marina.

Impressiona o aumento de eleitores sem candidato --que dizem não saber quem escolher ou que afirmam votar em branco, nulo ou nenhum. No início do mês, eram 12%. Agora, são 24%.

No outro cenário no qual Dilma aparece como candidata é incluído também o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa --que tem negado intenção de disputar eleições.

Nessa hipótese, a petista tem 29% e há três nomes empatados em segundo lugar: Marina (18%), Aécio e Joaquim (15% cada um). Campos pontua 5%.

Lula é testado em duas simulações. Numa delas, vai a 45%. Nesse cenário, Marina, Joaquim, Aécio e Campos somam juntos 43% e ficam empatados tecnicamente com o ex-presidente. Haveria possibilidade de segundo turno.

Em outra cartela, quando o nome de Joaquim não é incluído, Lula tem 46% contra 37% de Marina, Aécio e Campos somados -aí o petista venceria no primeiro turno.

No geral, é possível dizer que os votos perdidos por Dilma foram, em parte, herdados por Marina e Joaquim. Um outro segmento de ex-dilmistas preferiu fazer um "pit stop" no grupo dos que

não têm candidato. Aécio e Campos não se beneficiaram da desidratação de Dilma.

Outro indicador duro com a atual presidente é na pesquisa espontânea, aquela na qual o entrevistado não é confrontado com uma lista de nomes. A petista já havia caído de 35% para 27% de março para o início de junho. Agora, bateu em 16%. Lula se manteve estável, com 6%. Joaquim Barbosa, que nunca aparecia na pesquisa espontânea, surge com 2%.

Há oscilações nas intenções de voto quando se comparam as taxas do interior do país e de áreas urbanas. Dilma vai melhor no interior. (FERNANDO RODRIGUES)

Folha de São Paulo

sábado, junho 29, 2013

Aposentado que encarou Choque em protesto compara repressão à ditadura

AGUIRRE TALENTO
DE FORTALEZA

A imagem correu o mundo ontem: um senhor de verde e amarelo, bigode e óculos, alguns quilos a mais, encara a tropa de choque da PM do Ceará durante protesto nos arredores do estádio Castelão, em Fortaleza.

A foto de Silvio Mota, 68, peito colado aos escudos dos policiais do choque, pouco antes de confronto que terminou com 92 presos e ao menos sete feridos, se espalhou pela internet e foi parar na capa de jornais como a Folha e o "New York Times".

Juiz do Trabalho aposentado, Mota é um ex-guerrilheiro que participou da luta armada contra a ditadura militar. Hoje ele é coordenador de um comitê no Estado que apura crimes cometidos naquele período.

COLEGA DE MARIGHELLA

Ex-colega de Carlos Marighella (1911-1969) na ALN (Ação Libertadora Nacional), Mota comparou a ação da PM durante o protesto à repressão que ocorria quando o país era uma ditadura.

"Ainda há resquícios daquele tempo: a doutrina de segurança nacional e a polícia avançando contra o povo como se fosse um inimigo", afirma ele, que cita Marighella ao defender que ninguém faça "luta armada em condições de legalidade, porque há outras formas de luta".

Protesto em Fortaleza

Mota decidiu encarar a PM após bombas de gás estourarem perto dele e da mulher.

Vestindo uma camiseta de repúdio à PEC 37, derrubada nesta semana no Congresso, caminhou em direção à barreira policial, cantando "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Enquanto isso, voavam pedras e paus que eram atirados pelos manifestantes.

"Não posso mais correr, então o jeito foi enfrentá-los. Tinha o dever de proteger minha esposa e os manifestantes", diz o ex-guerrilheiro.

Mota discutiu com os policiais, que ameaçaram prendê-lo. Citou então sua condição de juiz e disse que não cometia nenhum crime naquele momento.

Só deixou o tête-à-tête quando os equipados policiais quiseram prender um militante do MST que também avançava em direção ao bloqueio. Ambos recuaram.

Mota deixou o local pouco depois --é diabético e precisava almoçar, disse. Após sua saída, o confronto se acirrou.

Para ele, os ataques dos manifestantes --que deixaram cinco PMs feridos-- são "legítima defesa", mas a onda de protestos pode virar "confusão generalizada" pela multiplicidade de pautas.

Filiado ao PT na década de 1980, ele deixou o partido ao se tornar juiz, e acha que a sigla "saiu dos trilhos".

REFORMA POLÍTICA

A proposta de reforma política feita pela presidente Dilma Rousseff recebe elogios do juiz, mas a avaliação é que os protestos irão continuar ocorrendo no país.

"Quando partimos para uma luta, nunca temos certeza da vitória. Mas não é por isso que devemos parar de lutar", reflete.

Há três anos, ele ostenta, tatuada no braço, uma epígrafe de sua vida: "Quando ouvires o trovão sem chuva chegando, não te assustes, são só os búfalos galopando".

Folha de São Paulo

Influência de Dilma tende a derreter no Congresso

Chegou a hora de a presidente Dilma Rousseff experimentar para valer a antipatia que construiu laboriosamente nos últimos dois anos e meio entre deputados e senadores. A queda de 27 pontos em sua popularidade, medida pelo Datafolha, será sentida agora a cada necessidade de negociação.
Na relação com os congressistas, presidentes da República são temidos ou admirados. Às vezes, raramente, as duas coisas. Dilma era sempre muito temida até maio passado, pois tinha a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura nesta fase do primeiro mandato.
Do alto de sua aprovação popular, a petista acostumou-se a agir de forma imperial. Não dava entrevistas, exceto para a mídia amiga com quem podia opinar sobre novelas e culinária.
Até agora, foi fácil se comportar como um Emílio Garrastazu Médici sentado dentro do Planalto, ouvindo o jogo da seleção brasileira pelo rádio e olhando com desdém para o Congresso, do outro lado da Praça dos Três Poderes. Agora, com uma aprovação mais próxima da de João Figueiredo, o cenário ganha em complexidade.
Políticos são pragmáticos. Não gostam de arranjar briga com uma presidente da República que é bem avaliada e ruma para a reeleição.
Na nova conjuntura em formação, entretanto, o poder da presidente tende a derreter momentaneamente dentro do Congresso. Ela poderia compensar essa perda de popularidade com as relações pessoais e políticas. Ocorre que essas relações sempre foram muito tímidas ou inexistentes, por decisão da própria Dilma.
O Blog conversou ao longo da sexta-feira, 28.jun.2013, com vários presidentes de partidos e com líderes governistas no Congresso. Todos apoiaram a ideia do plebiscito para a reforma política de nariz virado. Em público, fingiram muito bem. Faz parte.
Na semana que vem, a conjuntura talvez mude. Os deputados e senadores devem se sentir mais à vontade para exercer sua sinceridade em público, quando tiverem de manifestar suas impressões sobre a forma como Dilma Rousseff conduz seu governo.
Mas é importante fazer duas ressalvas.
Primeiro: essa pesquisa foi realizada agora, no auge dos protestos de cidadãos indignados. Não é certo que algum outro político possa herdar de maneira definitiva o capital político-eleitoral que antes estava com Dilma e o PT para 2014. É necessário esperar mais algum tempo, talvez alguns meses, para saber como o cenário atual vai decantar.
Segundo: no auge do mensalão, em 2005, Luiz Inácio Lula da Silva também foi dado como morto e sua popularidade ficou num nível baixo e similar ao de Dilma agora. O restante da história é conhecido: o país voltar a crescer de maneira vigorosa e o petista foi reeleito em 2006.
O que diferencia o cenário de hoje do de 2005 é algo muito simples. O presidente lá atrás era Lula: um político esculpido na escola das negociações difíceis e das relações pessoais sólidas com seus aliados. Hoje, a presidente é Dilma, uma política quase sem grupo de confiança com quem possa governar nem um círculo generoso de amizades no Congresso.

Blog do Fernando Rodrigues

Popularidade de Dilma cai 27 pontos após protestos

Pesquisa Datafolha

finalizada ontem mostra que a popularidade da presidente Dilma Rousseff desmoronou.

A avaliação positiva do governo da petista caiu 27 pontos em três semanas.

Proposta de plebiscito tem apoio de 68%

Hoje, 30% dos brasileiros consideram a gestão Dilma boa ou ótima. Na primeira semana de junho, antes da onda de protestos que irradiou pelo país, a aprovação era de 57%. Em março, seu melhor momento, o índice era mais que o dobro do atual, 65%.

A queda de Dilma é a maior redução de aprovação de um presidente entre uma pesquisa e outra desde o plano econômico do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1990, quando a poupança dos brasileiros foi confiscada.

Naquela ocasião, entre março, imediatamente antes da posse, e junho, a queda foi de 35 pontos (71% para 36%).

Em relação a pesquisa anterior, o total de brasileiros que julga a gestão Dilma como ruim ou péssima foi de 9% para 25%. Numa escala de 0 a 10, a nota média da presidente caiu de 7,1 para 5,8.

Neste mês, Dilma perdeu sempre mais de 20 pontos em todas regiões do país e em todos os recortes de idade, renda e escolaridade.

O Datafolha perguntou sobre o desempenho de Dilma frente aos protestos. Para 32%, sua postura foi ótima ou boa; 38% julgaram como regular; outros 26% avaliaram como ruim ou péssima.

Após o início das manifestações, Dilma fez um pronunciamento em cadeia de TV e propôs um pacto aos governantes, que inclui um plebiscito para a reforma política. A pesquisa mostra apoio à ideia.

A deterioração das expectativas em relação a economia também ajuda a explicar a queda da aprovação da presidente. A avaliação positiva da gestão econômica caiu de 49% para 27%.

A expectativa de que a inflação vai aumentar continua em alta. Foi de 51% para 54%. Para 44% o desemprego vai crescer, ante 36% na pesquisa anterior. E para 38%, o poder de compra do salário vai cair --antes eram 27%.

Os atuais 30% de aprovação de Dilma coincidem, dentro da margem de erro, com o pior índice do ex-presidente Lula. Em dezembro de 2005, ano do escândalo do mensalão, ele tinha 28%.

Com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a pior fase foi em setembro de 1999, com 13%.

Em dois dias, o Datafolha ouviu 4.717 pessoas em 196 municípios. A margem de erro é de 2 pontos para mais ou para menos (RICARDO MENDONÇA)

Danilo Bandeira/Editoria de Arte/Folhapress

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Folha de São Paulo

quarta-feira, junho 26, 2013

Mesa Diretora abre processo para perda de mandato do Dep. Natan Donadon

Presidente da CCJ diz que notificará ainda nesta quarta o deputado, que teve a prisão decretada pelo STF.

A Mesa Diretora decidiu, na tarde desta quarta-feira (26), abrir processo de perda de mandato contra o deputado Natan Donadon (PMDB-RO). Ao sair da reunião do colegiado, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, destacou que “a Casa, em prazo recorde e justo, está cumprindo seu dever”.

Na manhã de hoje, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão de Donadon, ao não reconhecer mais um recurso contra a condenação de 2010 pelos crimes de peculato e formação de quadrilha. O parlamentar foi condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias de reclusão pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia, quando era diretor financeiro da instituição. Advogado do deputado, Nabor Bulhões questionou a constitucionalidade da prisão de Donadon.

Não há mais possibilidade de recurso contra a decisão do Supremo. Essa decisão, entretanto, não diz respeito à perda de mandato do deputado, inclusive porque a condenação é anterior à posse na Câmara. Por isso, o assunto terá de ser decidido pelos parlamentares.

Processo


De acordo com Alves, o comunicado da Mesa chega ainda hoje à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). O presidente da CCJ, deputado Décio Lima (PT-SC), já escolheu o relator do processo – será o deputado Sergio Zveiter (PSD-RJ).

Lima adiantou que ainda hoje vai notificar Donadon sobre a abertura do processo. A partir do recebimento do comunicado, o parlamentar terá o prazo de cinco sessões ordinárias realizadas pelo Plenário para apresentar defesa ao colegiado.

Embora o Regimento Interno da Câmara não preveja tempo para a votação do relatório na CCJ, Décio Lima pretende votá-lo o mais rapidamente possível. “Já combinei com o relator para que ele, prontamente, assim que se encerrar o prazo de cinco sessões para defesa, apresente o parecer”, declarou. Pronto o texto, Lima pretende colocá-lo em votação já na reunião seguinte da CCJ.

Se o parecer de Zveiter for pela cassação, ele será enviado à Presidência. A partir daí, caberá a Henrique Alves colocar a proposta em votação no Plenário - o presidente disse que colocará o relatório em votação assim que o receber. No Plenário, o pedido de cassação, em votação secreta, precisará ser aprovado pela maioria absoluta dos deputados.

Voto aberto

Na manhã desta quarta, a CCJ aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 196/12, que institui o voto aberto para processos de cassação de mandato parlamentar por falta de decoro e por condenação criminal com sentença transitada em julgado. Caso a PEC seja votada antes da decisão da cassação pelo Plenário, o processo de Donadon poderá ter votação aberta.

Decisão sobre o mandato

Na avaliação de Décio Lima, embora seja “uma situação inusitada”, parece não haver alternativa para Câmara a não ser decidir sobre o mandato de Donadon. “Com uma sentença com trânsito em julgado, uma prisão decretada, não há mais o que fazer, senão a Câmara se pronunciar com relação à permanência do deputado entre seus membros ou sua exclusão”, avalia.

Desde a promulgação da Constituição de 1988, nenhum deputado teve mandado de prisão decretado durante o exercício do cargo.

Reportagem - Maria Neves
Edição - Marcelo Oliveira

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'

sexta-feira, junho 21, 2013

Itália ameaça ir embora e Copa das Confederações pode ser suspensa

As manifestações que tomaram conta de todo o país podem ter afetado diretamente a Copa das Confederações. Segundo informações do jornal Estado de São Paulo e do jornalista Juca Kfouri, da Rádio CBN, membros da delegação da seleção italiana estão preocupados com a segurança dos jogadores e pediram garantias para a Fifa. Os europeus alegam que não querem jogar numa "praça de guerra".

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A entidade máxima do futebol, inclusive, já teria começado a negociar a permanência das demais seleções no Brasil para evitar que o torneio fosse cancelado. Caso não consiga convencer as equipes a permanecerem no país, a Fifa poderia acionar um seguro e teria direito a receber uma quantia bilionária. 
Questionada pelo Estadão, a assessoria de imprensa da Fifa garantiu que a possibilidade de cancelamento da Copa das Confederações sequer foi discutida durante as reuniões desta quinta-feira. O mesmo discurso foi repetido pelo Comitê Organizador Local.
No atual cenário, apenas um comunicado oficial do governo brasileiro declarando que não tem condições de garantir a segurança das delegações seria capaz de cancelar a competição.
Além dos protestos, outros problemas atrapalham o andamento do evento. Nesta quinta-feira, 20, a delegação espanhola confirmou que alguns jogadores foram roubados durante a estadia da seleção em Recife. Em Salvador, dois carros da Fifa foram atacados por manifestantes. Ainda no Nordeste, a mulher do goleiro da seleção brasileira, Júlio César, foi assaltada depois da partida contra o México, em Fortaleza.

Yahoo

Brasil tem um milhão nas ruas em protestos com dezenas de feridos

Ao menos uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas nos protestos que reuniram mais de 1 milhão de brasileiros nesta quinta-feira, em diversas cidades do país, para exigir serviços públicos de qualidade e denunciar os gastos com a Copa do Mundo, entre outras reivindicações.

 

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A presidente Dilma Rousseff, que acompanhou os protestos do Palácio do Planalto, convocou uma reunião de emergência para a manhã desta sexta-feira com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para discutir os efeitos das manifestações.

O primeiro óbito da onda de manifestações que abala o Brasil ocorreu em Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo, onde um jovem de 18 anos foi atropelado por um automóvel, segundo a Polícia Militar.

A imprensa local informou que o veículo tentou passar por um grupo de manifestantes que bloqueava uma rua e atropelou três pessoas, matando o jovem e ferindo as outras duas.

No Rio de Janeiro, uma enorme multidão tomou conta de toda a extensão da Avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, em um protesto que reuniu mais de 300 mil pessoas e terminou de forma violenta. Os confrontos entre manifestantes e policiais, alguns a cavalo, começaram nas imediações do prédio da Prefeitura, na Cidade Nova, mas depois se estenderam por todo o centro da cidade.

Segundo a imprensa local, ao menos 62 pessoas ficaram feridas nos confrontos, incluindo um jornalista da Globonews atingido na testa por uma bala de borracha. Um veículo do SBT foi incendiado por manifestantes próximo à sede da prefeitura, na Cidade Nova.

No Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio, soldados do Batalhão de Choque atiraram balas de borracha e jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo contra o interior da unidade, onde eram socorridos manifestantes feridos. Os policiais tentaram entrar no hospital para prender manifestantes que se refugiaram no local, mas foram impedidos por funcionários.

"Se querem estar seguros, não venham ao Rio de Janeiro, não venham à Copa do Mundo, porque se vierem vão ajudar este governo que atira contra nós", disse Rodrigo Neves, um jovem de 20 anos, à AFP. Em Brasília, o protesto reuniu mais de 30 mil pessoas e milhares de manifestantes tentaram invadir o Congresso Nacional, sendo reprimidos pela Polícia de Choque, que utilizou bombas de gás lacrimogêneo.

A multidão seguiu então para o Palácio do Itamaraty, onde tentou entrar no prédio por uma das rampas de acesso, provocando um confronto que destruiu parte da fachada do prédio. Segundo os serviços de emergência da capital federal, 35 pessoas ficaram feridas nos confrontos, sendo três em estado grave.

Em Salvador, a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra cerca de 20 mil manifestantes concentrados na zona do estádio onde Nigéria e Uruguai se enfrentavam pela Copa das Confederações. Algumas pessoas jogaram pedras para tentar furar a barreira policial e se aproximar mais da Fonte Nova, segundo jornalistas da AFP no local.

Pelo menos um manifestante ficou ferido atingido por um disparo de bala de borracha nos confrontos, que também deixaram um policial ferido. Milhares de pessoas gritaram "O gigante acordou!" e entoaram lemas contra a presidente Dilma Rousseff, contra a homofobia e o racismo.

Ainda em Salvador, dois micro-ônibus da Fifa foram apedrejados diante do hotel onde está hospedado parte do pessoal da Federação Internacional de Futebol. A fachada do prédio também foi atingida. A polícia de choque reagiu ao ataque com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta.

Em São Paulo, o protesto reuniu mais de 100 mil pessoas na Avenida Paulista, onde houve brigas entre manifestantes quando um grupo denominado "Os Nacionalistas" tomou bandeiras do PT e do PSTU das mãos de militantes, queimando-as em seguida.

Membros da UNE, do PSOL e de outras organizações também foram hostilizados na capital paulista. Também ocorreram distúrbios em Porto Alegre, onde 15 mil pessoas protestaram, e em Belém, 13 mil.

Em Campinas, no interior de São Paulo, a TV local informou sete feridos em incidentes em torno da prefeitura. No Recife, outra sede da Copa Confederações, mais de 50.000 pessoas tomaram as ruas, segundo a Polícia. À medida que a multidão avançava pacificamente pelo centro da cidade, as pessoas jogavam papel branco picado do alto dos edifícios.

Em Vitória, outra manifestação reuniu mais de 100 mil pessoas no centro da cidade, e um pequeno grupo atacou com rojões o prédio do Tribunal de Justiça.

Os protestos também mobilizaram 15 mil pessoas em Belo Horizonte, 30 mil em Cuiabá, 20 mil em Aracaju, 70 mil em Manaus, 10 mil em João Pessoa, 8 mil em Fortaleza e 4 mil em Curitiba.

Indignação geral

Os protestos, que deixaram a classe política brasileira perplexa, começaram exigindo a revogação do aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem, mas rapidamente outras reivindicações e denúncias foram feitas, como os 15 bilhões de dólares dos contribuintes destinados à Copa das Confederações e ao Mundial de 2014.

Os manifestantes, em sua maioria jovens de classe média, expressam sua indignação pelo aumento do custo de vida e pela má qualidade dos serviços públicos, no momento em que o país registra um crescimento econômico decepcionante e uma inflação em alta.

Também denunciam a corrupção arraigada na política brasileira e exigem maiores investimentos em educação, saúde e segurança.

Maiores protestos na história do Brasil

Nem a desistência de mais de dez prefeituras e governos estaduais em aumentar os preços das passagens de metrô, trem e ônibus serviu para reduzir o entusiasmo dos manifestantes.

As cidades de Belo Horizonte e Campo Grande comunicaram planos para baixar o preço do transporte público, seguindo os passos de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Cuiabá, Recife e João Pessoa.

O lema dos protestos passou a ser "Não é só por vinte centavos", em referência ao aumento do preço da passagem de ônibus anulado, e fóruns relacionados aos movimentos nas redes sociais tinham até um milhão de seguidores.

Em Washington, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou nesta quinta-feira sua preocupação com a violência das forças de ordem contra manifestantes e jornalistas.

"A Comissão pede às autoridades que investiguem o possível uso excessivo da força, e se for o caso, que julguem e punam os responsáveis", destaca um comunicado. O Estado brasileiro "deve garantir e proteger a integridade física e a segurança de manifestantes e jornalistas".

AFP

terça-feira, junho 18, 2013

Entenda porque as manifestações se espalha pelo Brasil


Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Ainda no começo da passeata de ontem no Rio, eu a observava de uma calçada da avenida Rio Branco quando um rapaz abriu o que parecia uma niqueleira e a esticou na minha direção. Como quem recolhe a mão, fintando mais um propagandista que distribui panfletos de produtos nas ruas, recusei. Ele insistiu:
“É um oráculo, pode pegar”.
Dentro da aparente niqueleira, espremiam-se papeizinhos dobrados, como se fossem provérbios que acompanham biscoitos da sorte em restaurantes chineses. Reparei que o moço que me presenteava tinha embaixo de um braço um livro com poesias de Bertolt Brecht. Apanhei o papelzinho e o guardei num bolso da calça.
A multidão tomara a Rio Branco, na esquina com a avenida Presidente Vargas, pontualmente às 17h26. Só às 18h25 o cortejo entrou por completo na antiga Avenida Central. Mais de cem mil jovens proporcionaram a maior manifestação política da cidade desde as jornadas do Fora, Collor, de 1992. Evocaram também a Campanha das Diretas, em 1984, e a legendária Passeata dos 100 Mil, em outro mês de junho, nos idos de 1968. Só que ontem havia mais gente.

Sem comando
A diferença não foi só numérica, quase tudo aparentou ser diferente. A manifestação não tem comando. Logo, inexiste porta-voz. Como não erguem um palanque, ninguém discursa. Ninguém declara seu fim. Meros dois modestos carros de som foram vistos, com oradores ouvidos apenas por seus pares. O protesto é articulado por uma comissão, que o convoca pela internet. Uma enorme faixa em pano amarelo atravessou a avenida, em maiúsculas: “SOMOS A REDE SOCIAL”. Espalharam-se cartazes com o mote “Saímos do Facebook”.
As bandeiras comuns são a revogação do aumento das passagens de ônibus de R$ 2,75 para R$ 2,95 e o direito democrático de protestar. É pouco para identificar um eixo, e o cenário se desenha nebuloso. Cada manifestante parece ter uma agenda customizada, uma passeata para chamar de sua.
O norte-americano John Reed escrevinhou um relato clássico sobre a Revolução Russa de 1917, “Dez dias que abalaram o mundo”. Como na terra dos czares era preto no branco, o jornalista produziu uma narrativa brilhante, mas linear. Reed penaria para contar o que houve ontem. Eu já sabia que um filósofo que decretou o fim da história não passa de um fanfarrão. Mas não supunha que tudo pudesse ser tão complexo como o que se descortinou.
Só constatei duas unanimidades. A primeira, contra as tarifas. Como demonstrou o jornal “Extra”, desde 2007 os bilhetes de ônibus, trem e barcas no Rio subiram mais do que a inflação. Fui de metrô para o Centro, pagando R$ 3,50, aumento de 52,17% nos últimos seis anos, em contraste com IPCA de 41,73%. A mulher do governador Sergio Cabral foi sócia de um escritório de advocacia que representa _ou representava_ a empresa particular que opera o metrô, uma concessão do Estado.
“Sexo é amor, sacanagem é R$ 2,95”, li em um cartaz. Poucos segmentos dos negócios convivem com tanta promiscuidade público-privada quanto o dos transportes. Talvez sem ter noção do que seja uma greve geral, milhares de vozes a propuseram: “1, 2, 3, 4, 5 mil, abaixa a tarifa ou paramos o Brasil”. Ameaçaram não passar pela roleta: “Se a passagem não baixar, eu vou pular”. E se associaram aos trabalhadores: “Ô motorista, ô cobrador, me diz aí se o seu salário aumentou”.

Vilão
O único vilão comum foi Sergio Cabral. O aumento das passagens foi concedido pelo prefeito Eduardo Paes, mas era a Polícia Militar, estadual, que vinha reprimindo os manifestantes em atos anteriores. Junta, a Rio Branco só entoou uma palavra de ordem, em seis palavras: “Ei, Cabral, vai tomar no cu”. É um tradicional xingamento de estádios de futebol, do tipo de ofensa que a Fifa pretende abolir no Brasil. Os blocos puxados pelo PSOL e pelo PSTU, duas agremiações de esquerda, repetiram o mantra: “Cabral é ditador”.
Embora não faltassem cartazes contra o prefeito, não prosperaram os cânticos contra ele. Nem contra a presidente Dilma Rousseff, do PT, aliada de Paes e Cabral, ambos do PMDB. Como até então se desconhecia pronunciamento dela sobre a mobilização, multiplicaram-se folhas A-4 xerocadas com o apelo “Manifeste-se, Dilma”.
Um ator segurou uma cartolina: “Dilma, você foi perseguida e presa na ditadura. Ontem fomos perseguidos e alguns presos no Maracanã. Como você consegue dormir sabendo disso?”. Onde escrevera “Nova ditadura”, o artista riscou a segunda palavra e a substituiu por “Dilmadura”.
Depois do governador, o Judas mais malhado foi a Copa do Mundo de 2014 _e a das Confederações, em curso. Ao contrário do que prognosticaram certos analistas, a proximidade dos torneios não arrefeceu as críticas, e sim as vitaminou. A massa gritou, desprezando a preposição: “A Copa, a Copa, a Copa eu abro mão, eu quero mais dinheiro pra saúde e educação!”. Alunos do Colégio Pedro II também não se disciplinaram pelo protocolo da Fifa: “Ô, ô, ô, foda-se a Copa!”.
Faixas e cartazes reiteraram: “Legado não é cimento”; “Não vai ter Copa”; Copa pra quem?”; “Brasil 3 x 0 Japão – E daí? O Japão ganha em saúde, transporte, educação…”; “1 Maracanã = 40 anos de hospital universitário”; “Enquanto te exploram vc grita gol”; “Caguei pro hexa”. E por aí em diante, com palavrões ou não.
Os meios de comunicação também foram alvejados pelos pulmões, que sopraram sobretudo contra o comentarista Arnaldo Jabor, da TV Globo. “Jabor arregão”, atacou um cartaz. Desinformado, descobri na internet que o jornalista havia esculhambado os manifestantes. Noutro recado, colaram o rosto de José Luiz Datena dentro de uma televisão, ao lado da reprimenda: “Datena, quem faz baderna é a polícia”.

Rebeldes com causas
Na contramão de críticas que os maldizem como rebeldes sem causa, os manifestantes evidenciaram que têm causas sem fim. O movimento galvanizou frustrações e desejos, a partir da gota d’água do aumento das tarifas. Estandartes improvisados pediam de tudo, e talvez nem nos anos 1960 tenha se erguido um como este: “Não combata a repressão com homofobia. Dar o cu é bom!”.
Homo ou heterossexuais, quase todos são jovens. Como milho estourando na panela de pipoca, eles saltitavam berrando: “Quem não pula quer aumento, quem não pula quer aumento!”. Mais puxado que spinning na academia. Uma barreira biológica para os mais vividos, que foram poucos.
“Senhor, chega pra lá, por favor”, escutei de um garoto _jamais fora tratado como “senhor” num protesto, cobrindo-o como repórter ou protestando noutros tempos. “Tá escrevendo poesia?”, abordou-me um adolescente, ao me flagrar anotando no caderno. “Quem me dera ter inspiração”, respondi. “Pois eu já fiz a minha poesia hoje”, ele emendou, abrindo uma pequena faixa de pano com o toque: “Tá foda”.
Podia mesmo estar, mas não por causa de repressão. Para evitar um morto como o estudante Edson Luis, baleado em março de 1968, a PM se retirou da Rio Branco. Só havia uns poucos homens do 5º BPM na esquina com Presidente Vargas, e outros na Cinelândia _mais tarde sobreviria a encrenca. O cheiro dominante era o de vinagre, levado pela garotada para minimizar o efeito de bombas de gás lacrimogêneo.
“Legalize o vinagre”, ironizavam. Seria pedir muito banheiros químicos na Cinelândia, infestada pelo odor de urina… O Rio testemunhou o maior protesto de ontem no país, mas o que vitaminou os jovens daqui foi a revolta com a violência da polícia paulista na quinta-feira, disseram-me estudantes.
Eles recorreram a músicas de décadas que não viveram para traduzir em pequenos cartazes suas broncas e aspirações. Reescreveram Cazuza, “Nossos inimigos estão no poder”, sem nomear os antagonistas. Regressaram a Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Viajaram dois séculos, com o Hino da Independência, no refrão adotado como lema por uma organização guerrilheira dos anos 1960 e 70: “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Cederam à música sertaneja: “Seu guarda eu não sou delinquente”. E reverenciaram Renato Russo: “Que país é esse?”, “Somos os filhos da revolução”. Assim, nas ruas, consagram-se os clássicos musicais.

Contra partidos
Se um manifestante ostentava a mensagem “Viva la revolución”, uma outra fustigava petistas: “Contra os petralhas”. A manifestação não foi nem de esquerda nem de direita, mas o confronto a permeou, mesmo que boa parte da audiência possa não ter se dado conta.
Os brados contra a corrupção foram incansáveis: “O povo acordou, o povo decidiu, ou acaba a roubalheira ou paramos o Brasil!”. Por escrito: “Políticos safados, parem de roubar”. Sobrou para Renan Calheiros. Desfraldaram-se apelos contra a PEC 37.
Da rejeição ao aumento das passagens, derivaram sugestões de estatização do transporte. Desfilaram camisas do MST e de Che Guevara, adesivos da marcha da maconha, bandeiras rubro-negras das Brigadas Populares, faixas do movimento negro e o alarme: “Não seja capitalizado pela direita golpista”.
Para uns, o foco era a corrupção. Para outros, aspirações sociais. No fundo, tudo constitui política, na geleia geral brasileira nunca tão eloquente como ontem.
Uma das maiores novidades trazidas pela multidão foi a aversão a partidos políticos. “Não tenho partido!”, proclamavam coros. Na Cinelândia, um rapaz enrolado na bandeira nacional e com óculos de motoqueiro resmungava para os amigos: “Eu odeio esse pessoal de partido”. Ao passar por bandeiras do PSTU, centenas de jovens repreenderam: “Sem partido! Sem partido!”.
Na Rio Branco, ecoou a profissão de fé: “O povo unido não precisa de partido!”. O contra-ataque também foi vigoroso: “O povo unido jamais será vencido!”. Uma professora universitária interpretou: um ato em disputa. Nem a bola de cristal tem ideia de quem no ano que vem se beneficiará eleitoralmente pela rebeldia novidadeira, por mais carona que queiram pegar: o PPS gravou seu programa de TV em meio à aglomeração. Não faltarão pitacos e previsões de especialistas.
Entre as siglas partidárias, nada assombrou mais do que a ausência do PT, o campeão das manifestações populares cariocas desde o princípio da década de 1980. Não percebi uma só bandeira vermelha com a estrela _o partido ocupa a vice-prefeitura e várias secretarias municipais e estaduais. Nem do PSB. Do PDT, duas _Leonel Brizola recebeu uma homenagem acidental, de um homem que exibia uma folha denunciando: “Farsa, urna eletrônica, caô do caralho”. Se os aliados de Dilma sumiram, também fizeram forfait os oposicionistas do PSDB e do DEM.
Uma síntese dos constrangimentos foi a discrição da UNE, presente com algumas bandeirolas no fim do cortejo, no bloco da União da Juventude Socialista. A UNE é controlada por estudantes do PC do B, sigla à qual a UJS se vincula. Os jovens convidavam quem acenava das janelas dos prédios: “Vem, vem, vem pra rua contra o aumento!”.
Faltou informar que quem aprovou a nova tarifa foi o prefeito cujo governo o PC do B integra. Bem como participa da gestão do Estado, a cujo chefe, Sergio Cabral, subordina-se a PM que tem batido nos jovens. Tirando PSOL e PSTU, todos os partidos mais conhecidos estão desconfortáveis com a conjuntura inédita.

Contra tudo
O sentimento que animou a multidão foi o de mudança. Querem participar e mudar, mesmo que não saibam o que pôr no lugar. São contra tudo e todos. Disseminam-se os símbolos de que nada será como antes. Eram raros os panfletos impressos, e incalculáveis os digitadores de celulares. Artistas celebrizados em atos políticos de outrora não compareceram. Agora, emerge a nova geração, feito atrizes como Leandra Leal e Georgiana Góes. Muitos reeditaram os caras-pintadas de 1992, lambuzando o rosto com tinta verde e amarela. Mas se destacaram as máscaras do filme “V de Vingança”. E lenços tapando o rosto, como nas rebeliões da primavera árabe.
No outono carioca, a zona sul, da geografia mais bem alimentada da cidade, dominou. Como em 1968 e 92 _em 1984, operários marchavam rumo aos comícios das Diretas vestidos com seus macacões. Contudo, acorreram escolas inteiras da zona norte, públicas e privadas. Todos os alunos sob o papel picado que chovia dos edifícios.
Como não foram providenciadas fotos de todo o trajeto da passeata, jamais se saberá com exatidão quantas almas havia. Técnicos avaliaram em 100 mil. Recorri a um método conhecido. O mapa do iPhone estima em no mínimo 900 metros a distância entre a Igreja da Candelária, início da caminhada, e a esquina de Rio Branco com rua Araújo Porto Alegre, na chegada. A largura da Rio Branco é de 33 metros. Portanto, ao menos 29.700 metros quadrados.
A concentração de indivíduos por metro quadrado é menor quando as pessoas se movimentam.  Às 18h26, porém, a marcha parou, porque todo o espaço havia sido preenchido, e os da frente estacionaram. Esse quadro implica quatro a sete manifestantes por metro quadrado. Veterano de protestos nos anos 1980, eu nunca vira massa tão compacta. Mas nas calçadas a concentração era menor. Com sobriedade, é possível calcular a densidade em quatro por metro quadrado, o que resultaria em 118.800 presentes.
Baixando para três por metro quadrado, o número cairia para 89.100. Ocorre que na Cinelândia, depois do ponto final da passeata, havia perto de 5.000 pessoas à espera (uma parte nas escadarias do Teatro Municipal, como registra a foto lá em cima). Nas ruas adjacentes, também se notavam agrupamentos abundantes. Ainda com essa média, o total passaria dos cem mil de 1968, quando existiam menos habitantes no Rio _no passado houve mais presentes, relativamente. Perguntei a um participante do ato de mais de quatro décadas atrás e ele confirmou que o de ontem foi mais numeroso. Talvez tenha reunido 120 mil pessoas.

Feridos
A cada correria, elas reagiam: “Sem violência! Sem violência! Sem violência!”. Foi assim na Cinelândia, às 18h47. Pouco depois das 19h, milhares se desgarraram, seguindo um carro de som rumo à Assembleia Legislativa. Às 19h57, manifestantes que bebiam no Amarelinho se levantaram para ver na TV do bar as imagens ao vivo da Globonews. “É na Alerj”, alguém esclareceu. “Pô, tava tão bom”, lamentou um passante. Uma garota alertou: “Aí, galera, a chapa tá quente na Alerj!”. Uma mulher de branco convocou: “Vamos pra Alerj, tão batendo nas pessoas!”.
No caminho, defronte ao prédio do Ministério da Educação projetado pela equipe de Lúcio Costa, os tímpanos tremeram: “Sem vandalismo! Sem vandalismo! Sem vandalismo!”.
Já era tarde. Diante da sede do Legislativo estadual, um número reduzido de vândalos atirava rojões, pedras e coquetéis molotov contra policiais militares, queimava pelo menos um automóvel e depredava outros. A PM respondia com bombas. Mais tarde, conforme testemunhas, também com balas de borracha e “de verdade”, ou seja, de chumbo. Houve feridos, levados para o hospital. Sem sucesso, a maioria dos jovens apelou aos baderneiros: “Não perde o foco! Não perde o foco!”.
A passeata pujante havia terminado na Rio Branco. Para a Alerj, dirigiram-se alguns manifestantes, que carregaram quem não queria parar. Mas foram poucos os que invadiram o Palácio Tiradentes, onde se instala a assembleia, e o picharam. Foi daquele terreno que Tiradentes partiu para a forca. Naquelas tribunas, discursaram políticos de direita, como Carlos Lacerda, de centro, como Juscelino Kubitschek, e de esquerda, como Luiz Carlos Prestes.
Uma reflexão que não justifica a arruaça: em um país com tamanha desigualdade, como o Brasil, a baderna nem de longe se assemelha à de jovens da periferia de Paris, que queimam até milhares de automóveis numa noite. Os vândalos destoaram na caminhada de paz.

Oráculo
Só no metrô, de volta para casa, lembrei-me do oráculo. No papel comprido e estreito, estava escrito em letras azuis de impressora, com o crédito para o livro “O gato Malhado e a andorinha Sinhá”, de Jorge Amado: “Não sou tão tolo a ponto de achar-me capaz de entender o coração de uma mulher, quanto mais o de uma andorinha”.
Pensei cá comigo: nem coração de mulher, nem de andorinha. Enigma cabeludo é essa passeata dos mais de 100 mil.